domingo, 27 de novembro de 2011

Ventos do Norte

Ouço os ventos do norte,
os quais trazem consigo
o tilintar das moedas
a cada passo da Morte.

Sons que irrompem o ar.
Fileiras de metais
esmagam as capitais
e calam a quem falar.

Gira a roda da sorte
com muito altas apostas,
mas quem perde é quem não joga.

Definem um recorte,
dão tapinhas nas costas,
mas não é na que se afoga.

A poça

Nesta poça meu rosto reflete
Sabes de onde vem esta poça?
Vem distante de sete mares
Cruzou céus nos hemisférios
Congelou na neve dos pólos
Deslizou por rios e quedas
Penetrou profundas terras
Matou a sede de animais
Sustentou tantas vidas
Matou tantas também
Escorreu por subsolos
Lavou tanto sangue
Levou esperança
Subiu aos céus
Virou gotas
A chuva
A poça
Eu

sábado, 5 de novembro de 2011

Lágrimas de mulher

As lágrimas, tantas, que lanças,
espelham um retrato - tão vivo, quanto úmido -
no reflexo das gotas - de um ato reflexo -,
um mundo paralelo do que poderia ter sido,
mas não o foi.
Nos respingos, se desmancham antigas
expectativas, ainda ativas, que Mnemósine
cuidadosamente recompõe
em seu mar de sofreguidão.
Um dia, quem sabe, Ela desista
e a fonte desse mar secará.
Decerto, sobrará o sal-cristalino
a aprisionar as amarguradas lembranças,
mas que novas chuvas gentis
hão de lavar e levar.

E, no convexo reflexo de tuas lágrimas,
brilhará, por fim, a luminosa felicidade
de seu sorrir...