quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Escrito nos genes

Me sinto imerso em um mundo de letras nucleotídicas e palavras genéticas,
que trazem a diversidade da variabilidade fonética.
Permeio entre os textos poéticos e mutantes arranjos estruturais
da poesia complexa.
Busco na linhagem brasileira, a herança materna de Raquéis e Cecílias
e de como seus genes ainda florescem nestas terras e enriquecem
nossas páginas.
Observo a história das escritas e as descobertas infinitas de Charles e Gonçalves,
cantando a Origem da Vida de guerreiros Tamoios
e de como que as aves, que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá,
pois, assim, a seleção natural conduziu-as a gorjear.
E um dia, toda a palavra escrita em nosso código genético será  revelada e interpretada
e continuará sendo feita, refeita, desfeita, embaralhada, descartada e renovada,
até que chegue o ponto final...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Alegria

As lágrimas escorreram, como há muito não faziam;
resfriaram a vermelha face, como há muito não lavavam;
passaram ao lado da boca e deixaram seu amargo e salgado sabor, que há muito não sentia;
rolaram pelo queixo e pingaram, gota a gota, como há muito não choviam;
e se espalharam no travesseiro, que há muito não encharcava;
e ela continuou... riu demais, como há muito não se divertia...
e se mijou...

Dieta forçada

Não precisamos da sua preocupação com calorias
nem da sua ideia fixa de emagrecer em cada verão
nem de suas ergométricas bicicletas e esteiras
ou de suas desprezíveis máquinas tremedeiras
ou de seus adipômetros de bolso
nem de sua adipofobia na mente
Não há espaço na mesa para suas dietas miraculosas
pois a comida é menor que o olho
e a dieta é eterna
a dieta é a da miséria...
No pôr-do-Sol há uma cor que ninguém enxerga, é a mesma cor que brilha
em seus rosados lábios. A mesma cor que me acalma, e torna menos penoso
o deitar da noite, e me faz enxergar que um novo dia virá e serei novamente
agraciado com o seu terno sorriso e seu presunçoso olhar...

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Minhas palavras

Não é poesia de poeta,
é só uma escrita desgrenhada.
Nada que se compare à concreta
inteligência da palavra engendrada.

Só jogo a caneta ao papel
de maneira pseudo-orientada
pelos doces lábios de mel
de uma Paulicéia Desvairada.

Não pingam de mim o suor
nem a vida do antigo romântico,
que caía de mal à pior
à cada verso de um cântico.

Desconheço as regras métricas,
que descrevem o vaso chinês.
Acho um exagero a estética
perfeita demais para ter clichês,

mas ainda vivem as estrelas,
brilhando nos céus de Ouro Preto
e iluminando as covas estreitas
onde brilham as larvas no peito

de um corpo que apodrece
e leva pesados rancores:
a ânsia de escarrar, se pudesse,
na boca de quem só ganhou amores.

Tomo um fósforo, acendo meu cigarro
e escrevo algumas ideias confusas.
Já um poeta esculpe do barro
a indescritível beleza de suas musas;

deixa afogar a mulher, mas
não larga sua obra mor
- escrita com tanto tenaz,
que se lhe torna o grande amor.

O poeta descreve a batalha
com profunda precisão,
como a que abateu Ismália
em sua eterna obsessão.

Como pedras, são minhas
palavras, atiradas à Geni,
pois carregam em suas linhas
as sandices que vivi

e são escritas com desleixo
de um homem sem tempo
pra fazer um verso perfeito
ou amar com tal intento...

domingo, 9 de janeiro de 2011

Nada

É o teor dos teus odores
o tenor dos teus cantores
o tremor dos teus atores
o horror dos teus pavores

A finta que te escapa
a tinta que te marca
a mancha que não se apaga
a felicidade que não se apega

A agonia que não se afasta
a cabeça oca do poeta
a palavra - forca - do profeta
a inclinação da linha reta
a história entre T e Theta


O farto seio que te alimenta
o vasto anseio que te orienta
a mesmice que se reinventa
a invenção de que a moda é diferente
e que tudo muda pra frente

é isso, é assim, é o que se quer que seja
é tudo sobre... nada...

Mama África

É fantástica tua bunda colagênica.
Não precisa silico, não aceita lipo,
não requer aparelhos, nem linfática.
É assim de tua natureza,
de imortal elástica-estática.
Vivas à tua estupenda seleção...
Vivas à Mama África...

Um eterno drama vampiresco

Arrepia-se ao meu olhar,
meu sangue até esquenta.
Não posso te pegar,
mas nem morcego aguenta.
Me atrai o sangue vermelho
de seu cabelo comprido.
Até sigo algum conselho,
mas sua voz é um estampido.
Entrego-me aos teus encantos,
mesmo sem te compreender.
E você aos prantos,
tentando me entender.
Mas agora nem os santos,
nem o diabo para desfazer...

Crepuscular

Ele a seca e sente-se seco.
Afasta-se à força,
mas não é o seu desejo.
Volta atrás por não suportar.
Ela, mais aliviada, respira.
Os dois aos poucos se entregam,
mas poucos devem saber.
Pode ser catastrófico,
como quase o é.
E o fim de tarde nunca termina,
apenas prossegue,
eternamente...

Dia da caça

Quero você
pro meu tira-gosto,
para tirar meu mau gosto.
Mas me atira ao chão e entalha
com seus matacões
o meu rosto.
Minhas costas já sangram
dos seus arranhões
e já estão viradas em frangalhos.
E em sua boca já virei o seu almoço...

A destruição não surpreende

É a parte orgânica de todas as coisas vivas e mortas.
É cada vez vez mais a moda, a arte e a filosofia.
É o que organiza a vida, a sociedade, a humanidade...
Tem o peso da história em suas corcovas,
passa e transpassa os muros da glória,
derruba preceitos e valores
e demole o moral, os dogmas e os paradigmas.
Desabrocha os botões floridos da morte
e os enche com as cinzas da vida.
Destrona reis para que virem bobos da corte,
ou para que a cabeça lhes cortem.
Cala filósofos para que se exilem em si mesmos,
ou para que a língua lhes cortem.
É a ordem natural... apenas isso...

sábado, 8 de janeiro de 2011

Avante... e o velho morre...

A paisagem muda,
mudam-se as figuras e mudam-se os figuras.
O bonde anda e não há arreio para lhe parar,
e agora anda como bala.
Alcança velocidade supersônica... e a paisagem muda.
Caem os edifícios antes imponentes,
caem as pequenas casas ao sopro do lobo,
caem as perfeições da natureza.
É uma transação cada vez mais natural,
é uma transição cada vez menos gradual,
é um chute no peito de um velho que morre.
Explode em cores na escuridão,
deixa as marcas nas camadas da evolução.
Transforma o cenário em restos e escombros sobrepostos,
limpados à retro escavadeira,
e escondidos à rolo compressor.
E para que isso? Para que emerja o novo,
o mais novo, o super novo
o hiper novo,
e que suma a pista que o pariu...