segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Na Lua refletimos

É outra noite, a Lua a nós contempla.
Eu aqui, ela lá... distante.
Nós dividimos este instante,
mas quanto espaço nos enfrenta.

A visão da Lua, tão ampla, nos une
e, ao menos por agora,
enxergo tua face q'outrora
me encarava tão imune.

Imune do solitário padecer,
da plangência do miserável,
do descaminho interminável,
que zela pelo desolado ser.

Sentia eu semelhante sorte,
partilhada no passado e no presente,
mas em que a Lua, complacente,
aporta generoso corte.

Neste momento regozijamos
as recordações que dela irradia,
avistando, quem sabe, o dia
designado em nossos planos.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Niki

Correu! Correu como nunca antes houvera.
Em cada pisada um pouco daquele sentimento se esvaía para a Terra, como eletricidade que atravessa os corpos. Em cada pisada aliviava um pouco do peso do mundo, que agora se encontrava em suas costas.
Correu! Correu até fatigar-lhe todos os músculos que possuía. Até que seus pulmões, por mais cheios de ar estivessem, eram ainda insuficientes para alimentar as sôfregas células sanguíneas.
O sangue (tão vivaz!) corava todos os pontos do corpo e corria dentro dele mais do que ele corria. Tingia seus pés, onde encontrava alívio para a pressão e fluía corpo a fora. Em cada passada deixava um pouco de sua vida em manchas de vivo rubror.
Correu! Deixando esses pesos para trás, a ponto de alcançar tal leveza comparável à dos anjos que pairam nos céus. Num grito, de ouriçar os pêlos de um grinfo, de toda carga que carregava sobre a Terra se desfez. E o que era da Terra voltou à Terra, e ele, mesmo faltando-lhe asas, subiu...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Do alto do meu ego

Do alto do meu ego à ela observo,
com isso distraído tropeço no cume.
Nessa longa queda me analiso,
de cima a baixo, caminhos certos,
atalhos errados.
Tudo o que se demora tanto a conquistar
e que se perde na velocidade da luz...

Me acolha em sua chuva gentil

Me acolha em sua chuva gentil,
me dê um último beijo antes de partir.
Leve um pedaço da minha alma
e todo o meu perene sorrir.
O tempo passa lento para nós,
esquecemos o que nos trouxe aqui.

As palavras não fazem mais sentido,
nos protegemos nesta vasta escuridão.
Arrependidos do que não foi vivido,
daquilo que foi perdido em vão.

As noites passam frias e compridas,
o relógio insiste em parar.
E quando durmo é tão difícil sonhar,
mas quando sonho eu só sonho com você
e quando penso eu só penso em você.
Como eu queria te ver...
como eu queria te ter...
como eu queria te ter aqui...
como eu queria...

As palavras não fazem mais sentido,
nos protegemos nesta vasta escuridão.
Arrependidos do que não foi vivido,
daquilo que foi perdido em vão.

Me acolha em sua chuva gentil...