quinta-feira, 2 de abril de 2009

GLORIA

Parada na minha porta
como um osso marcando em frente a um cachorro
Beiços lambidos
o osso me fita
Cai o cabelo
Caem as vestes
Ela caminha
em torno da cama
sobe no colchão
em minha direção
engatinha
Ela mia, late e morde
sabe morder... arranha e lambe
Sobe e manda ver
Seios tenros, quantos anos tens?
Quanta coisa sabe?
Disto... sabe muito, com certeza
Suas pernas em torno do meu pescoço
Sua língua em minha barriga
E descendo, descendo, descendo
Isso sim, é disso que eu tô falando
Seus lábios em torno de mim
Isso me faz tão bem
Ela sabe agradar
E me faz sentir nas nuvens...
Oh! Glória!

Noite dionisíaca

Taberneira, traga uma garrafa de vinho
vou comemorar a volta de meu bem
Se ela não voltar, comemorarei que ela não vem
Hoje não é dia de embestar
encherei meu copo, me entregarei aos deuses do vinho,
das canções, dos teatros, dos amores, festejarei com errantes e perdidos
Comemorarei a chegada de meu bem ou comemorarei que ela não vem
Uma noite será pouca, tragam mais vinho e mais gente.
Me afogarei em copos e corpos, em tintos e bocas.
Direi adeus ao meu amor ou lhe fornecerei meu calor
Não importa, vou festejar...

Vícios

Me apego ao cigarro
me apego à bebida
me apego ao café amargo
eu não tenho você do meu lado
Voce é meu vício maior
você sabe cuidar de mim
me apego à todos esses vícios
Sem você, só espero
O fim...

A última

Ouviremos reggae
dançaremos juntos ao luar
em torno do fogo faremos nossas preces
dormiremos como crianças na areia da praia
viveremos nossa última noite de amor à beira do mar
Faça a noite surgir a Lua
faça o dia surgir o Sol
nós nunca estaremos prontos
para o ponto final...

Um olhar

Eu vejo você caminhando entre reles mortais, passando com sua aura fantástica no meio da nebulosa multidão. Só os seus olhos me atraem, só suas curvas me deliciam, só o seu andar me contempla. Só sei te ver, você nem sabe...
'O suor dela esfria e seca na cama de novembro' - Dr. Manhattan (Watchmen)

Sobre cigarro

Agora, me inebrio na fumaça de meus próprios cigarros,
emergindo em meus sentidos a fumaça de teus cigarros...
Agora, me afogo na minha neblina,
trazendo à tona o sabor mentolado de tua neblina...
Um trago...teu rosto...dois...teus olhos...três...tua boca... Ah!... o maço inteiro...
Meu vício saboroso...o câncer que me cura...você...

Amor eterno

Pegarei o ônibus da partida, da despedida, do até mais ver. Quero que a semana dure, que o tempo pare, que nossas danças se eternizem.
Choraremos a dor da despedida, sorriremos cada segundo de prazer, brindaremos cada ínfimo instante de nossas memórias.
Teremos um ao outro, talvez pela última vez neste tempo contínuo. Mas teremos um ao outro para sempre nas sinapses de nossas mentes... na construção de nossos seres.
Inesquecível, interminável, intocável, intrínseco, inseparável...

Gray Bus

Latas de sardinha passam na minha frente. Abarrotadas até a boca.
O cansaço se torna perene. Não temos muita escolha.
Quando elas vêm, vêm transbordando. Quando acabam-se os corpos, elas não vêm mais.
É tudo uma exaustiva dança. Espera, passa, pega, espreme, pernas, bocas, braços e adendos.
No fim, mais uma sardinha sai aliviada no caminho de casa.
É preferível estar livre para morrer, do que viver enlatado...

Blood in the streets

O sangue que escorre nas ruas vaza dos poros cansados de suar. Pessoas exaustas em seus pequenos mundos de metal, plástico, borracha e estofado.
Olhos cansados de lacrimejar tanta fumaça e reflexo de vidraças. As ruas transbordam deste sangue que perdemos de graça, além daquele que damos para sobreviver.
Dos ouvidos vazam os motores, as buzinas e as sirenes, que ecoam em nossos cérebros quase liquefeitos.
Das gargantas e narizes escorrem os gritos diários e o seco ar de concreto armado. É este sangue que preenche as ruas. É este sangue que nos afoga.