segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Relatividade

Ando pelo espaço e volto no tempo
nos caminhos já tantas vezes percorridos
divididos em tantos momentos
se encontram o que vivo e o que já foi vivido

Penso na distância que passou e na que virá
o tempo que percorri e que percorrerei
nos minutos eternizados e na eternidade de alguns minutos...
Caminho anos atrás
passam os caminhos antigos
Aqueles instantes estão todos lá
no mesmo tempo e espaço
e os carrego para sempre comigo

Tempo e espaço, dimensões tão relativas
amantes de físicos atônitos
Na extensão desta estrada
que percorro por poucas horas
caminho por alguns anos atrás...
e passam-se alguns quilômetros...

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Ao raiar do meio-dia

As pálbebras fortemente coladas
A visão claramente esfumaçada
O paladar distinguivelmente irreconhecível
A boca amordaçantemente seca
A cabeça latejantemente pesada
A mente relembrando a amnésia
O corpo indiscutivelmente sofre
Teria de levantar cedo e ir à labuta diária
Até acorda... até iria...
Mas analisa...
Acordará melhor...
ao raiar do meio-dia...

Uma planta

Vou me infiltrar em teu corpo, percolar em cada célula,
correr em suas veias, irrigando-te inteira.
Vou atravessar teu coração, vidrar teus olhos,
mudar tua mente... e curar tua alma...

sábado, 7 de novembro de 2009

Lembra quando caminhávamos juntos na praia?

Lembra quando caminhávamos juntos na praia?
As aves, retornando ao lar, passavam rasantes pelas vagas do mar.
A brisa soprava suave da terra, dando à atmosfera singular brevidade.
O céu, refletindo a luz em ângulos obtusos, se repartia em tons alaranjados, vermelhos e azuis.
No horizonte, logo abaixo do Astro-Rei, crescia a sombra de gigantes, que circundavam a extensa planície costeira com austeridade de sábios anciões.
O Sol descia lentamente...
a areia, antes clara e quente, ganhava um tom escurecido e a temperatura de um ser que morre.
Seus olhos escuros ganhavam a dimensão da noite e neles brilhava a luz da lua, que lentamente surgia por trás do oceano...
primeiramente enorme e dourada e, aos poucos, adquirindo o semblante prata...
como um reflexo do dia, iluminava a tudo em seus tons argênteos.
Na superfície do oceano cresciam então as sombras de colossos afogados, dos quais apenas os cumes observam a passagem dos dias.
Nesse momento, nossas almas compartilhavam um sentimento eterno, de valor imensurável, que dispensa qualquer contrato...
Talvez a nossa praia nunca mais tenha tanta intensidade e nem a Lua e nem o Sol brilhem tão belos, e nem o céu se mostre em tons tão amorosos. Mas aqueles momentos existirão sempre em nossas lembranças e a mim essas lembranças sempre trarão você.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Lá vem ela na passarela (abrem-se as covas)

O Sol lhe queimando o rosto...
o vento esvoançando seu cabelo...
Seu longo vestido branco, tremulando,
envolve suas curvas celestiais...
Sua pele bronzeada do verão
tem o tom alaranjado do pôr do Sol...
O olhar decidido encara o horizonte.
Admiro sua beleza sem disfarce -
passa por mim - e, com certo gracejo,
abrem-se duas covinhas em sua face...

Preso à cova

Cá estou eu, novamente, no fundo da cova.
Perdido nesta escuridão que me cerca,
por um elo é que eu enxergo...
a visão de um mundo que pouco se renova.
É tão fascinante a pouca luz que  meus olhos atinge,
que mesmo enquanto tempo e espaço se destorcem,
a obscuridão deste buraco negro não me aflige.
Cativo, inoculado, submisso, sem anseio de livrar-me...
não há como que eu disfarce,
absorto, entregue, rendido, preso,
em cada sorriso, às covinhas de tua face...

Ode à Tes...

A prova de que não é necessário
possuir - para se fazer ouvir - gritos.
Tampouco plumagens coloridas
se precisa para ser visto.

Basta ir-se com seu peito arfante
acima de inscientes humanos.
Com o vento, transcendendo o firmamento,
aonde já repousara tantos planos.

A mais sublime de todas as formas
na simetria mais sublime de todas,
na delicadeza do escuro manto...

O simples no belo tranforma...
Eternamente em vestes de bodas...
Me fascina e sobrevoa... a tesourinha-do-campo